sábado, 10 de julho de 2010

Minha Casa

Norma Santi 

Moro num pedaço de chão
Que me acolhe
Me envolve
Me aguarda 
Desgoverno-me 
O solo acompanha meus pés
Ando de ré
Na casa que sempre foi a minha

A gênese 
O útero
Os fluídos
O gosto e o desgosto 

A impulsão
A corda que me afasta e me puxa
Às novas e velhas moradas 

O ar que me enche
Que me comprime 

O sol se esgueirando na esquina
Dicotomia
Claro escuro
A flor na janela 

Cotidianamente
Até que se esvaneça
A luz mórbida do inverno

Removidamente
Até que se complete
O ciclo da terra 

Da minha cama
Pressinto que
O berimbau batuca
Pedradas
Capoeiras
Nas matas atravessadas 

Desambiguo
O destino
Dançando na guita da vida 

É terreno
Fixo no concreto
Refúgio seguro

Minha casa tem um cobertor
De imagens abstratas
Que me espreita
Nas frestas das telhas 
Um debochado corsário
Que naufraga meus navios
Quando se afunda
E se lambuza
Nos meus travesseiros

Minha casa tem uma ameixeira
Que me presenteia de frutas
No mês do meu aniversário 

Minha casa tem a música
Composta no silêncio
Rompida
Pelo eco da intermitente
Algazarra das crianças 
E no porão
Envelhece
Na necessária escuridão
O vinho
Que acompanha o pão
Minha casa é feita de
Paredes de madeira
E de fome saciada

A minha casa sempre inicia
Na primavera de outubro
E termina
Nas curvas da interrogação.

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