Moro num pedaço de chão
Que me acolhe
Me envolve
Me aguarda
Desgoverno-me
Ando de ré
Na casa que sempre foi a minha
A gênese
O útero
Os fluídos
O gosto e o desgosto
A impulsão
A corda que me afasta e me puxa
Às novas e velhas moradas
O ar que me enche
Que me comprime
O sol se esgueirando na esquina
Dicotomia
Claro escuro
A flor na janela
Cotidianamente
Até que se esvaneça
A luz mórbida do inverno
Removidamente
Até que se complete
O ciclo da terra
Da minha cama
Pressinto que
O berimbau batuca
Pedradas
Capoeiras
Nas matas atravessadas
Desambiguo
O destino
Dançando na guita da vida
É terreno
Fixo no concreto
Refúgio seguro
Minha casa tem um cobertor
De imagens abstratas
Que me espreita
Nas frestas das telhas
Um debochado corsário
Quando se afunda
E se lambuza
Nos meus travesseiros
Minha casa tem uma ameixeira
Que me presenteia de frutas
No mês do meu aniversário
Minha casa tem a música
Composta no silêncio
Rompida
Pelo eco da intermitente
Algazarra das crianças
Envelhece
Na necessária escuridão
O vinho
Que acompanha o pão
E de fome saciada
A minha casa sempre inicia
Na primavera de outubro
E termina
Nas curvas da interrogação.
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