domingo, 22 de novembro de 2009

Recusa

Norma Santi

Perdoa-me se não pude me despedir de ti na janela.
Não queria que visses minha lágrima no olho,
Nem meu nó na garganta.
Não sei a mágica de fazer o tempo correr.
Tão pouco fazê-lo parar.
Não sei estalar os dedos
Para arrumar a mala.
Não sei conter o coração dentro do peito.

Mas sei fazer a poesia que me aproxima de ti.
Executar a música que reflete minha alma.
Sei respeitar a farda
Que me faz sentir o fardo da dor.
Tenho sabido colocar cada coisa a seu tempo.
Esperado cada amanhecer,
Pois sei que é nele que posso te encontrar.

Mas não sei conter a minha alma que agora escorre para fora.
Nem mesmo a canção me acalma.
Minha voz segue rasgada.
Um blues.
Uma guitarra que reclama
Sua presença.

Abraço meu corpo
Do jeito como tu o farias.
Suspendo a dor, lembrando do teu riso.
E voo contigo.
Traio o tempo e espaço.
E construo a ponte
Que mantém unidas as nossas mãos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Eu sou

Norma Santi

Uma fagulha,
Um risco que começou num ponto distante.
Que veio chegando em círculos.
Expandiu e construiu um corpo.
Formou uma alma
Inconstante,
Mutável.

Sou um pedaço do que ainda serei.
Um outro ponto.
Em outro ponto.
Um ponto de interrogação diante da vida.
Um ponto de exclamação para a beleza da vida.
Reticências sobre o futuro...

Um ponto que, afinal, não quer ser o final.

domingo, 8 de novembro de 2009

Desculpa

Norma Santi

Desculpa minha insistência
Esta constante vontade de voltar.
E se ela de súbito me atacar,
Sem sequer avisar,
Terei que estar pronta.
Preparada.
Eu nunca sei quando ela virá.
Ela, a poesia.
A que te dirá:
Te amo
Eu te amo.

Volta para mim!

E desculpa minha constância
De ser infeliz.
De me amarrar desta forma irracional em ti.
Desculpa minha fragilidade
De querer,
De insistir em te amar.
Desculpa até eu te amar.
Desculpa olhar para o mar e te ver sorrir.
Desculpa te ver em cada volta.
Criar possibilidades que só existem para mim.

Eu andei por ai
E nada vi que se aproximasse de ti.
Deixe-me chorar
Cremar esta grande paixão.
Eu preciso cremar esta paixão.
Tu não podes ser mais meu sol, tão pouco meu ar.
Preciso respirar sem ti.
Preciso da luz que não venha de ti.

Não consigo dizer good bye
Dizer good bye.

domingo, 1 de novembro de 2009

Fios

Norma Santi

Recolhi versos,
Juntei palavras,
E fiquei colhendo mágoas.

Amontoei saudades,
Provoquei pensamentos,
E deixei que me atormentassem as dúvidas.

Contive raivas,
Deixei folhas em branco,
E não salvei os rascunhos.

Contei fábulas,
Criei imagens fantásticas,
E esqueci a moral da história.

Criei novas formas,
Inventei matizes,
E ignorei a fórmula de ser feliz.

Ultrapassei medidas,
Venci estradas,
E corri para longe de mim.

Juntei velhos retalhos,
Espanei novas incertezas,
E refiz os caminhos até meu coração.

Amálgama

Norma Santi  Colocada por Deus em linha elíptica Pra viver de dias cândidos Deitar-me à rede de noites plácidas Enluarada de ...