Norma Santi
Poema selecionado como Principal Destaque do Banco de Talentos Fenaban 2009 Um grande amor não morre. Suspende-se.
Toma uma rua paralela.
Sorrateiro que é, ignora o não e se junta ao plano das horas.
Um grande amor não morre.
Apressa-se antes em crescer.
Unem-se a ele cada palavra não dita, cada gargalhada repentina e incontida.
Um grande amor não morre.
Senta-se na poltrona mais confortável, assiste um cobertor e puxa a lista dos filmes prometidos.
Um grande amor não morre.
Recusa-se a fechar a janela exuberante da paisagem que continua ali, exibindo-se.
Um grande amor não morre.
Um grande amor não morre.
Expande-se e agiganta-se porque deixamos que brotasse em nós.
Cresce alheio à interrupção a qual o submetemos.
Um grande amor não morre.
Rende-se ao tempo.
Guarda dentro de si todas as canções,
Todos os olhares que por ora estão detidos.
Um grande amor não morre.
Pacientemente aguarda.
Demora-se a compreender os porquês.
Cresce alheio à interrupção a qual o submetemos.
Um grande amor não morre.
Rende-se ao tempo.
Guarda dentro de si todas as canções,
Todos os olhares que por ora estão detidos.
Um grande amor não morre.
Pacientemente aguarda.
Demora-se a compreender os porquês.
Fica perplexo ao ver seus sonhos um a um pendurados na linha paralela.
Linha onde ficam todos os amores subitamente interrompidos.
Todos os amores andarilhos, abandonados, órfãos.
Um grande amor não morre.
Subalimenta-se.
Insiste faminto a revirar restos que o mantenham vivo.
Presente.
Caminha de dia e a noite recolhe-se num canto qualquer em que lhe deem abrigo.
Sente o frio do esquecimento.
Um dia parte. Mas, partir para um grande amor não é morrer.
É transmutar-se.
É mansamente adormecer sob a doce sombra do alvorecer.