Norma Santi
Aonde estão escondidas as palavras que quero te dizer?
De tempos que as espero.
Ah! Sei sim que são raras, combinadas uma a uma
Pensadas em cada detalhe para que não desmoronem
Ao sopro do primeiro vento
Nenhuma doce palavra acabará na frieza de um chão áspero.
Devem, as palavras, conter cada fragmento das sensações registradas
Cada gosto provado
Cada gota de vinho sorvido.
Devem ser elas paridas à luz de um doce veneno
Devem conter cada gesto pequeno
Cada som sôfrego,
Cada sussurro
Cada surpreendente confissão
Devem também conservar o riso
Eternizá-lo nas moléculas do tempo
As palavras, essas que me invadem
São o cobertor que me cobre
Quando seu corpo se perde do meu
As palavras abraçam-se pelo meu pensamento vazio
Misturam-se, amam-se
Tentam em vão registrar a grandeza de cada infinito gesto
De cada olhar retido
De cada sorriso em ato seguinte ao êxtase
Mas eis meu lindo amado a minha estranha descoberta
A de que nenhuma palavra foi criada
Nem mesmo por um insistente poeta
Que de passagem pelo tempo
Quisesse eternizar um momento
E fazer dele seu grande talento.
Vai ver então que não é possível este meu intento
De colocar em palavras
Coisas que só cabem no meu e no teu pensamento.